quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O PINCEL



Fui uma noite pintar
Com um caneco emprestado;
Eu pintei sem reparar,
Pintei e fiquei pintado.
GLOSAS
Eu comecei com jeitinho
A compor o ramalhete;
Primeiro foi com azeite
E depois foi com cuspinho.
No começo era estreitinho,
Custava o pincel a entrar…
Começa a dona a gritar:
“Não me parta a tigelinha”,
Mas que coisa engraçadinha,
Fui uma noite pintar…
Comecei devagarinho…
Quando fui ao outro mundo
Meti o pincel ao fundo
E parti o canequinho.
Até mesmo o pincelinho
Veio de lá todo pintado,
Eu já estava desmaiado,
Perdendo as cores do rosto;
Mas pintei com muito gosto
Com um caneco emprestado.
Vem a mãe toda zangada:
“Tem que pagar-me a vasilha…
No caneco da minha filha
Não pinta você mais nada…
…Lá isto, a moça deitada,
Sem poder levantar-se,
Com tanta tinta a pingar
No lugar da rachadela!…”
“Diga lá, que desculpe ela,
Eu pintei sem reparar!”…
P’ra que vejam que sou pintor
E meu pincel nunca deixo;
P’ra que saibam que o Aleixo
Não é somente cantor…
Também pinto qualquer flor
E faço qualquer bordado;
Mas aqui o ano passado,
Perdi, de pintar, o tino…
Fui pintar, fiz um menino,
Pintei e fiquei pintado.
(António Aleixo)


Enviado por Franjuca

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