quarta-feira, 20 de março de 2013


Correi a ver em cena as putas grulhas,
Do Bairro Alto a corja dos pandilhas,
Os fadistas pingões e bigorrilhas,
Que de noite incomodam as patrulhas.
Na tasca da putaria
Na tasca da putaria
Houve ontem grande bulha,
Veio de lá a patrulha,
Pra o Carmo levar me queria.
Um soldado olha para mim,
E me diz: «Marche prà frente,
Barulho não se consente,
Aqui não se quer chinfrim.»
Mas não me faz espantar,
Que tinha vinho nas tripas;
Preguei-lhe quatro chulipas
E depois toca a safar.
Já livre da entalação,
Donde escapei por milagre,
Na tasca do Zé Vinagre
Fui tomar o meu pifão7.
Lambança, risca: alteração da ordem.
Estampas, narcejas, trolhas, trunfos, umas todas: bofetadas.
Rolantear: esfaquear.
Sarda: faca.
Chegada, meio-bordo, picada, risco: facada.
Arrefecer, esfriar, espichar, marar, vindimar, virar: matar.
Muda, naifa: navalha.
Arroz: pancada.
Verdoso: sangue.
Meter a mão aos arames: tirar a navalha do bolso.
A fadistagem de então,
Entre navalhas e vinho,
Junto às amantes fiéis,
Cantava, com devoção,
O fado bem choradinho
Nas tabernas e bordéis
Sempre, sempre de seu rosto
A frescura conservou,
Puta sempre de bom gosto,
Não fugiu de quem pagou:
Em Lisboa fez furores,
Teve dúzias de amadores…
Té dos nobres visitada,
Enriqueceu menos mal.
Entre as putas portuguesas,
Espanholas e francesas,
Ê certeza das certezas
Que não houve puta igual.
Dedica-lhe esses teus cantos,
Ó vate, por gratidão
/…/
Entoem-se os doces hinos
A quem, por lei dos destinos,
Endireitou os pepinos
Da portuguesa nação!
Ali entrou o pissalho
Já do povo, já do rei
f-J
Era uma puta de fama!
Mente quem coiro lhe chama;
Não era puta d’Alfama,
Era uma puta de lei
Assim como as cocas
Cocaram os peixes do mar,
Assim as cocas coquem os homens,
Pra eles de mim gostar,
Pra com eles bom dinheiro ganhar,
Pra com ele comer, beber
E pagar a quem dever…
Em louvor do S. S. Sacramento do alta
Corno! Cabrão!
Dá-me dinheiro, fortuna e pão

enviado por Franjuca

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